Subjetividade Nómada e Escuta Analítica
Resumo
No artigo, são analisadas as transformações da subjetividade nas sociedades contemporâneas hipermóveis e os desafios que estas colocam à escuta psicanalítica. Com base na noção de subjetividade nómada de Rosi Braidotti, distinguem-se três configurações psíquicas e temporais: o exilado, o migrante e o nómada. Enquanto o exilado permanece ligado ao passado pela perda e o migrante habita um tempo burocrático suspenso, o nómada constrói a sua identidade através do movimento e da transição, mais do que da pertença. A partir do conceito de não-lugares de Marc Augé — espaços de trânsito desprovidos de memória —, no texto propõe-se que a psicanálise pode transformar esses vazios em lugares de encontro e de sentido. As vinhetas clínicas de “pacientes nómadas” revelam fragmentação, ansiedade e dificuldade em criar vínculos no meio do deslocamento constante. Nesta fluidez, a fiabilidade e a constância temporal do analista tornam-se âncoras para a historização e a localização subjetiva. A mobilidade é apresentada como hierarquia social e condição psíquica, evidenciando as contradições entre o nomadismo digital privilegiado e a migração forçada. A escuta analítica redefine-se como prática capaz de habitar o entre-dois, onde identidade, língua e pertença permanecem abertas, heterogéneas e em permanente construção.
Palavras-chave
Subjetividade nómada, Migração, Desenraizamento, Escuta analítica
Biografia Autor
Silvia Raquel Acosta
Psicanalista argentina residente em Portugal desde 2020. Membro da Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP) e da Associação Psicanalítica de Córdoba (APC) (Argentina). Overall Chair do Comité de Estudos sobre Diversidade Sexual e Género da Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Secretária Científica do Livro Anual de Psicanálise em espanhol do International Journal of Psychoanalysis.
Referências
- Akhtar, S. (1995). A third individuation: Immigration, identity, and the psychoanalytic process. Journal of the American Psychoanalytic Association, 43(4), 1051-1084. https://doi.org/10.1177/000306519504300405
- Akhtar, S. (1999). Immigration and identity: Turmoil, treatment, and transformation. Jason Aronson.
- Augé, M. (1993). Los no lugares. Espacios del anonimato: Una antropología de la sobremodernidad. Editorial Gedisa.
- Bauman, Z. (2001). Globalització. Les conseqüències humanes. Editorial de la Universitat Oberta de Catalunya.
- Braidotti, R. (2004). Feminismo, diferencia sexual y subjetividad nómade. Editorial Gedisa.
- Braidotti, R. (2009) Transposiciones. Sobre la ética nómada. Editorial Gedisa. Butler, J. (2004) Vida precaria. El poder del duelo y la violencia. Paidós.
- De Coster, J. (2019). A few psychoanalytic thoughts about migration, the loss, and the search for identity. Psychoanalysis Today, 11. https://www.psychoanalysis.today/en-GB/PT-Articles/De-Coster144613/A-few-psychoanalytic-thoughts-about-migration-and.aspx
- Dung Kai-cheung (2012). Atlas: The Archaeology of an Imaginary City. Columbia University Press.
- Varvin, S. (2019). Psychoanalysis and the situation of refugees: A human rights perspective. In P. Montagna & A. Harris (Eds.), Psychoanalysis, law and society (pp. 9-26). Routledge.
- Varvin, S. (2023). A psicanálise e a terceira posição: Convulsões sociais e atrocidade. Revista Portuguesa de Psicanálise, 43(2), 30-37. https://doi.org/10.51356/rpp.432a4
- Vicente, A. T. (2024) Projeto Transtopia. Disponível online em https://anateresavicente.com/
- Volkan, V. D. (1993). Immigrants and refugees: A psychodynamic perspective. Mind and Human Interaction, 4(1), 63-69.
- Winnicott, D. (1971) Realidad y juego. Editorial Gedisa.