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 Recordar, Pensar e Transformar - Passado e Futuro

Se recordar é viver, sonhar o futuro é um alimento criativo importante. Sob o auspício do onírico podemos convocar os colegas a recordar, mas também a pensar sobre o que serão os desafios, dilemas e questões, bem como os possíveis trilhos para o futuro da psicanálise. 

Freud no seu seminal artigo “Recordar, repetir e elaborar” (1914) ensinou-nos que no processo psicanalítico existe uma repetição de acontecimentos sob a égide da transferência, o qual, associado à compulsão para a repetição, leva ao acting out e condiciona a compreensão, sem hipótese de transformação e desenvolvimento. A lembrança e posterior elaboração dos eventos e dos afetos associados é de extrema importância, possibilitando a tomada de consciência, a emergência de um pensamento e uma possível transformação. Existem igualmente vivências que não podem ser recordadas porque nunca foram conhecidas e nunca foram conscientes, as quais pertencem ao reino do não pensado e por vezes do impensável. Não só os aspetos da mente primitiva, mas também os da interseccionalidade nos interpelam na contemporaneidade. 

A análise pessoal dos futuros analistas inclui raramente a exploração das afiliações étnicas, nacionais ou religiosas. No sonho dos analistas em análise ou dos seus analisandos, os sentimentos e ansiedades ligados à pertença ao grande grupo são raramente mencionados no divã, porque consideradas não analíticas (Varvin & Volkan, 2018). No entanto, a nossa pertença a um grupo, a uma cultura, a nossa história enquanto país e enquanto povo marca a nossa identidade.

Alexander Mascherlich (1971) enfatizou a necessidade de trabalhar de perto com profissionais de outras disciplinas e ciências sociais, mas os estudos cooperativos deste tipo são frequentemente excluídos das revistas científicas psicanalíticas. No futuro da Psicanálise, teremos que aceitar que, se não incluirmos os conhecimentos históricos nas nossas reflexões e que se formos incapazes de elucidar áreas específicas da realidade, não iremos ter novos sonhos de futuro (Varvin & Volkan, 2018). A nossa história enquanto povo marca também a história da Psicanálise em Portugal e a da história da Sociedade Portuguesa de Psicanálise. Será que o nosso sonho sonhado entre os traumas vividos, as glórias passadas e o colapso do tempo pela repetição regressiva dos grandes grupos poderá introduzir um sonho do futuro, o sonho de mais pulsão de vida?  

Sabemos que a vida das instituições psicanalíticas, tal como a vida das pessoas, é marcada pelo processo de repetição e rememoração, muitas vezes procurando a compreensão de algo encerrado no interior da organização, outras vezes como tentativa de superar um qualquer acontecimento traumático, outras vezes ainda como procura de uma via de crescimento. Para que possa ocorrer transformação é fundamental que, ao recordar, se possa unir o pensamento ao pensador. A prática dos futuros psicanalistas continuará a ser o lugar de uma figura solitária? Deste modo, para celebrar o aniversário dos 50 anos da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, convidamos todos os colegas neste call for papers a partilharem o seu pensar sob a forma de um artigo a submeter à RPP.  

 

Referências:

Freud, S. (1914 / 1950). Remembering, repeating, and working-through. The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, Volume XII (pp. 145-157). Hogarth Press.

Mitscherlich, A. (1971). Psychoanalysis and the aggression of large groups. International Journal of Psychoanalysis, 52 (2), 161-167. 

Varvin, S. & Volkan, V. (Eds.) (2018). Violence or dialogue - Psychoanalytic insights on terror and terrorism. Routledge. 

 

Prazos:

Prazo limite para a submissão: 15 de julho de 2025

Todas as submissões passarão pelo processo de revisão cega, após a qual a RPP se compromete a responder ao autor até 20 de setembro de 2025

Se o trabalho for aceite, o autor terá que retornar o artigo reformulado de acordo com as revisões pedidas até 15 de outubro de 2025

Publicação no número de dezembro de 2025