Quem é o Analista que Sonha o Paciente e Quem é o Supervisor Que Compreende o Sonho: O Terceiro em Supervisão
Resumo
Neste artigo, procura-se explorar o desenvolvimento em paralelo das ideias acerca da supervisão em Psicanálise e a emergência do conceito de terceiro analítico. Embora este conceito só tenha assumido uma referência concreta nos trabalhos de Grotstein (1979, 2000) e de Ogden (1994), ele já estaria presente na mente e no trabalho clínico de vários psicanalistas, como se procura demonstrar através da exploração de vários triângulos psicanalíticos.
Salienta-se a importância do conceito de processo paralelo na supervisão, processo inconsciente que leva a que seja reproduzida na situação de supervisão a situação analítica, possibilitando ao supervisor identificar os aspetos que ainda não estão compreendidos pelo supervisando. Desse modo, o supervisor tem de ser quem sonha o sonho ainda não sonhado pelo supervisando, para que este por sua vez possa ajudar o paciente a sonhar.
Palavras-chave
supervisão, terceiro analítico, triângulos psicanalíticos, processo paralelo, história da psicanálise
Biografia Autor
Guilherme Canta
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta, Membro Candidato da Sociedade Portuguesa de Psicanálise. Serviço de Psicologia Clínica e Hospital de Dia do Hospital Júlio de Matos – Unidade Local de Saúde São José e Consultório Privado, Lisboa.
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