Uma imagem vale mais que mil palavras: Tatuagem como expressão da subjetividade
Resumo
A tatuagem está presente na história Humana há, pelo menos, 4000 a 2000
anos. A evolução da sua utilização ao longo do tempo é marcada por múltiplas
significações decorrentes do contexto social. A descoberta da fotografia no século XX,
assim como as mudanças culturais, sociais, políticas e económicas ocorridas na segunda
metade do século XX e no século XXI, transformam radicalmente a visão e filosofia da
utilização do corpo. A tatuagem adquire uma nova dinâmica como fonte de expressão
de um mundo moderno onde a subjetivação se torna difícil, numa relação íntima sem
tempo. A exploração psicanalítica dos corpos tatuados conduz-nos à significação
inconsciente, fundada no Eu corporal, no Eu-pele, na relação precoce, nas dificuldades
de simbolização, na somatização e nos mecanismos de regressão. A necessidade de
exteriorização dos conflitos internos e afirmação da individualidade na pele, o
embelezamento constante de um corpo espetáculo, o controlo de angústias psicóticas,
são algumas das funções que o ato de tatuar ou a modificação do corpo podem cumprir.
São descritos alguns exemplos clínicos de autores de referência.
Palavras-chave
tatuagem, história, sociedade, psicanálise
Biografia Autor
Jorge Bouça
Psiquiatra, Psicanalista e Membro Associado da Sociedade Portuguesa de Psicanálise, Diretor de Psicodrama Psicanalítico.
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