O través da casa: Desenraizamento e dor psíquica
Resumo
Este texto reflete na relação entre violência histórica, nomeadamente colonial, de género e de classe, e as dificuldades contemporâneas que se colocam aos indivíduos confrontados com uma necessidade existencial de pertença. Em concreto, analisa-se a precarização das possibilidades de construir uma casa psíquica, mobilizando-se, para isso, o conceito de matriz, proposto por Bracha Lichtenberg Ettinger. Na senda de etnografias, cruzando saúde mental e religião, no texto desenvolvem-se as virtualidades deste conceito para abordar a dor psíquica manifestada por indivíduos sujeitos ao trauma do desenraizamento colectivo e transgeracional. Para estes indivíduos, a busca, ou construção, de uma casa psíquica é um empreendimento vital, já que está em causa a reactivação das relações matriciais constitutivas da subjectividade. Esta ideia é ilustrada com a análise conjunta de uma história de vida e da obra de Juan Rulfo, Pedro Páramo (1955). Através de uma reflexão teórica e interpretativa, defende-se que, do ponto de vista psíquico, habitar significa a reactivação da fronteira entre o sujeito e mundo: fronteira necessária, já que simultaneamente protectora e provedora de vida.
Palavras-chave
Violência colonial, Pertença, Subjectivação matricial, Espiritualidade
Biografia Autor
Tiago Pires Marques
Historiador e sociólogo. Investigador no Centro de Estudos Sociais (CES), Universidade de Coimbra.