Saltar para menu de navegação principal Saltar para conteúdo principal Saltar para rodapé do site

Três conceções da memória na psicanálise

Resumo

Neste artigo, propõe-se uma viagem através da conceção da memória no percurso da história da psicanálise, sugerindo-se três momentos concetivos: o primeiro, saído da influência das ciências naturais, representado na passagem do modelo neuropsicológico ao psicanalítico, com a descoberta do traço mnésico e de uma teoria económica, com o conceito de «memória-lembrança»; o segundo, resultante do estudo da histeria, da descoberta da fantasia e do abandono da teoria do trauma, das lembranças encobridoras e de amnésia infantil, com o conceito de «memória-reconstrução»; e o terceiro, representado pela descoberta da precocidade psíquica presente desde o nascimento, da identificação projetiva, da phantasia inconsciente e do realismo que a caracteriza, com o conceito de «memória-integração», da qual faz parte integrante o conceito de «sonho-como-memória». Serão discutidas importantes implicações na técnica operada por esta evolução na conceção da memória, nomeadamente as do uso da transferência e da contratransferência, da abordagem das patologias do recalcamento às da clivagem, da neurose à psicose, do adulto à criança. Três vinhetas, de uma criança, de um pré-adolescente e de um adulto, ilustram a exposição.

Palavras-chave

Memória, Lembrança, Reconstrução, Integração, Transferência-contratransferência

PDF

Biografia Autor

Maria José Martins de Azevedo

Psicóloga clínica, psicoterapeuta, psicanalista e escritora. Formadora na Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP), membro da IPA (Associação Internacional de Psicanálise), da FEP (Fédération Européenne de Psychanalyse) e da SEPEA (Société Européenne pour la Psychanalyse de l’Enfant et de l’Adolescent).


Referências

  1. Aguayo, J. (2014). Bion’s Notes on memory and desire – its initial clinical reception in the United States: A note on archival material. The International Journal of Psychoanalysis, 95(5), 889–910.
  2. Azevedo, M. J. (2017). A oficina do psicanalista – Ensaios sobre a experiência psicanalítica. Calçada das Letras.
  3. Azevedo, M. J. (2021). Ressurreição – O lugar do futuro e a função esperançadora do objeto. Calçada das Letras.
  4. Bion, W. R. (1962). A theory of Thinking. The International Journal of Psychoanalysis, 43, 306–310.
  5. Bion,W. R. (1973). Atenção e Interpretação. Imago. Bion, W. R. (1991). As transformac?o?es. A mudanc?a do Aprender para o crescer. Imago. (Original publicado em1965.)
  6. Bion,W. R. (1994). Emotional turbulence clinical seminars and other works. Karnac Books.
  7. Bion, W. R. (2000). Brasilia clinical seminars. Em Clinical Seminars and OtherWorks (pp. 3–128). Karnac Books, pp. 3–128.
  8. Blass, R. B. (2012). The ego according to Klein: Return to Freud and beyond. The International Journal of Psychoanalysis, 93(1), 151–166.
  9. Boulanger, J. (2015): La mémoire de Freud à Kandel. L’Information Psichiatrique, 91(2), 145–162.
  10. Coimbra de Matos, A. (2019). Crescer novamente. Em Laço de seda. Mente de diamante (pp. 309–312). Editores.
  11. Farias, F. R. (2008). Pensando a memória social a partir da noção de a posteriori de Sigmund Freud. Revista Morpheus, 7(13).
  12. Freud, S. (1979). A interpretação das afasias. Edições 70. (Original publicado em 1891.)
  13. Freud, S. (1996). Estudos sobre a histeria. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. ii, pp. 39–270). Imago. (Original publicado em 1893.)
  14. Freud, S. (1996). Projeto para uma psicologia científica. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. i, pp. 333–454). Imago. (Original publicado em 1895.)
  15. Freud, S. (1996). Carta 52 (6 de dezembro de 1896). Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. i, pp. 281–287). Imago.1996. (Original publicado em 1896.)
  16. Freud, S. (1996). Carta 69 (21 de setembro de 1897). Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. i, pp. 309–311). Imago. (Original publicado em 1897.)
  17. Freud, S. (1996). O mecanismo psíquico do esquecimento. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. iii, pp. 275–286). Imago. (Original publicado em 1898.)
  18. Freud, S. (1996). Lembranças Encobridoras. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. iii, pp. 287–304). Imago. (Original publicado em 1899.)
  19. Freud, S. (1996). A interpretação dos sonhos. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. V, pp. 371–700). Imago. (Original publicado em 1900.)
  20. Freud, S. (1996). Sobre a psicopatologia da vida do quotidiano. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. vi, pp. 19–272). Imago. (Original publicado em 1901.)
  21. Freud, S. (1996). Um caso de histeria e três ensaios sobre a sexualidade. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. vii, pp. 19–116). Imago. (Original publicado em 1905.)
  22. Freud, S. (1996). A dinâmica da transferência. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xii, pp. 107–119). Imago. (Original publicado em 1912.)
  23. Freud, S. (1996). Recordar, repetir e elaborar. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xxii, pp. 159–171). Imago. (Original publicado em 1914.)
  24. Freud, S. (1996). O Inconsciente. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xiv, pp. 163–222). Imago. (Original publicado em 1915(a).)
  25. Freud, S. (1996). Observações sobre o amor transferencial (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise iii). Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xxii, pp. 173–187). Imago. (Original publicado em 1915(b).)
  26. Freud, S. (1996). Além do princípio do prazer. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xviii, pp. 11–75). Imago. (Original publicado em 1920.)
  27. Freud, S. (1996). O Ego e o Id. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xix, pp. 13–80). Imago. (Original publicado em 1923.)
  28. Freud, S. (1996). Uma nota sobre o bloco mágico. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xix, pp. 251–259). Imago. (Original publicado em 1925.)
  29. Freud, S. (1996). Moisés e o monoteísmo: três ensaios. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (vol. xxiii, pp. 13–50). Imago. (Original publicado em 1939.)
  30. Freud, S. (1996). Esboço de psicanálise. Em Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, (vol. xxiii, pp. 151–208). Imago. (Original publicado em 1940.)
  31. Freud, S. & Breuer, J. (1979). Sobre o mecanismo psíquico dos fenómenos histéricos: comunicação preliminar. Edições 70. (Original publicado em 1893.)
  32. Freud, S. & Salomé, L. A. (1975). Carta de Freud a Lou Andreas-Salomé, de 25 maio de 1916. Em Correspondência completa (pp. 65–66). Imago.
  33. Golse, B. (2007). O ser-bebé. Climepsi.
  34. Heimann, P. (1950). On Counter-Transference. The International Journal of Psychoanalysis, 31, 81–84.
  35. Heimann, P. (1955). A Contribution to the Re-evaluation of the Oedipus-complex: the early states. Em M. Klein, P. Heimann e R. Money- Kyrle (Eds.), New Directions in Psycho-analysis (pp. 23–38). Basis Books.
  36. Heimann, P. (1966). Certaines fonctions de l’introjection et de la projection dans la première enfance. Em M. Klein, P. Heimann, S. Isaacs, J. Rivière (Eds.), Développements de la psychanalyse (pp. 115–158). Presses Universitaires de France.
  37. Isaacs, S. (1966). La nature et la fonction du fantasme. Em M. Klein, P. Heimann, S. Isaacs, J. Riviére (Eds.), Développements de la psychanalyse (pp. 61–114). Presses Universitaires de France.
  38. Kernberg, O. F. (1995). Transtornos graves de personalidade: estratégias psicoterapêuticas. Artes Médicas.
  39. Klein, M. (1996). Amor, culpa e reparação e outros trabalhos 1921-1945 –Volume I das Obras Completas. Imago. (Original publicado em 1975.)
  40. Klein, M. (1997). A psicanálise de crianças – Volume II das Obras Completas. Imago. (Original publicado em 1932.)
  41. Klein, M. (1985). Notas sobre alguns mecanismos esquizoides. Em Inveja e gratidão e outros trabalhos 1946-1963 – Volume III das Obras Completas de Melanie Klein (pp. 17–43). Imago. (Original publicado em 1946.)
  42. Meltzer, D. (1973). Estados sexuais da mente. Imago.
  43. Meltzer, D. (2015). O Claustro. Uma Investigação dos Fenómenos Claustrofóbicos. Karnac Books. Meltzer, D. (2021). The consequences of Mrs Klein’s spacial revolution. Em Selected Papers of Donald Meltzer. Personality and Family Structure (pp. 17–30). Meg Harris Williams. Harris Meltzer Trust. (Original publicado em 1979.)
  44. Money-Kyrle, R. (1956). Normal Contertransference and some of its deviations. The International Journal of Psychoanalysis, 37, 360–366.
  45. Ogden, T. H. (2004). An introduction to the reading of Bion. The International Journal of Psychoanalysis, 85(2), 285–300.
  46. Racker, H. (1960). Estudios sobre técnica psicoanalitica. Editorial Paidós.
  47. Ricoeur, P. (2000). La mémoire, l’histoire, l’oubli. Seuil.
  48. Rosenfeld, H. (1963). Notes on psychopathology and psychoanalytic treatment of schizophrenia. Psychiatric Research Report American Psychiatric Association, 17, 61–72.
  49. Rouart, J. (1967). Les notions d’investissement et de contre-investissement a? travers révolution des idées freudiennes. Revue Française de Psychanalyse, 31(2), 191–213.
  50. Segal, H. (1975). Introdução à obra de Melanie Klein. Imago. (Original publicado em 1964.)
  51. Segal, H. (1982). A obra de Hanna Segal: Uma abordagem kleiniana a prática clínica. Imago.
  52. Stramer, R. (2012). A Meltzer reader: Selections from the writings of Donald Meltzer. The International Journal of Psychoanalysis, 93(5), 1329–1335.
  53. Tassin, J.-P. (2004). Un neurobiologiste peut-il commenter une présentation clinique. Em B. Golse (Ed.), Vers une neuropsychanalyse? (p. 264). Odile, Jacob.
  54. Wallerstein, R. (1967). Reconstrution and mastery in the transference psychosis. American Psychoanalytic Association, 15, 551–583.
  55. Winnicott, D. (2000). Da Pediatria à Psicanálise. Imago. (Original publicado em 1947.)