O Corpo no Divã, o Divã no Sonho: Função Analítica como Bússola e Âncora em Tempos Difíceis
Résumé
Neste artigo, a autora argumenta que a era atual, ao normalizar vivências desumanizantes, gera pacientes que desafiam os limites do analisável. A autora destaca o impacto de tal facto na formação de psicanalistas e propõe repensar os modelos formativos. Recorre à “banalidade do mal”, de Arendt, para refletir nas marcas da arrogância e da intolerância, frequentemente disfarçadas de sucesso e segurança. Analiticamente, esses fenómenos são ligados à pré-genitalidade e à fragilidade do self — defesas contra o medo da desintegração e do vazio, ainda sem representação ideacional. A autora aprofunda a função analítica como via transformadora de estados mentais colonizados, questionando o ensino da rêverie e da intuição na formação. Revisita autores como Levine, Civitarese, Green e Parsons. A partir de uma vinheta clínica, analisa a simbologia do setting como expressão externa da mente em estado onírico, sublinhando a importância da construção prévia de um setting interno na díade e de uma atitude formativa não colonizadora.
Biographie de l'auteur
Conceição Melo Almeida
Psicóloga Clínica e Psicanalista de Crianças, Adolescentes e Adultos. Membro Titular com funções didáticas da Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP), da Associação Psicanalítica Internacional (IPA) e da Federação Europeia de Psicanálise (FEP). É Presidente da Comissão de Ensino da Sociedade Portuguesa de Psicanálise.
Références
- Arendt, H. (1999). Eichmann em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal (J. R. Siqueira, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Obra original publicada em 1963)
- Barthes, R. (2009). Roland Barthes por Roland Barthes. Edições 70. (Obra original publicada em 1975)
- Bion, W. R. (1967). On arrogance. In Second Thoughts (1st ed., pp. 86-92). Routledge. https://doi.org/10.4324/9780429479809-7
- Civitarese G. (2024). On arrogance: A psychoanalytic essay. Routledge. https://doi.org/10.4324/9781032669427
- Freud, A. (1969). Difficulties in the path of psychoanalysis: A confrontation of past with present viewpoints. International Universities Press.
- Freud, S. (1961). Civilization and its discontents. In J. Strachey (Ed. & Trans.), The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (Vol. 21, pp. 57-145). Hogarth Press. (Obra original publicada em 1930)
- Green, A. (1975). The analyst, symbolization and absence in the analytic setting (on changes in analytic practice and analytic experience). The International Journal of Psychoanalysis, 56(1), 1-22.
- Heimann, P. (1950). On counter-transference. The International Journal of Psychoanalysis, 31(1), 81-84.
- Racker, H. (1968). Transference and Countertransference. Routledge. https://doi.org/10.4324/9780429484209
- Parsons, M. (1999). Psychic reality, negation, and the analytic setting. In G.
- Kohon (Ed.), The Dead Mother: The Work of Andre Green (pp. 59-76). Routledge.
- Levine, H. (2012). Criando analistas, criando pacientes de análise. Livro Anual de Psicanálise (Vol. 26, pp. 207-224). Escuta.