Saltar para menu de navegação principal Saltar para conteúdo principal Saltar para rodapé do site

Tudo Isto e Nada Disto é Ser Analista em Formação: A Experiência de Integração e Construção da Identidade Analítica

Resumo

Partindo da reflexão sobre a experiência de ser psicanalista em formação, da leitura do artigo “Identifications in training: The unending road to Thebes” (Oliveira et al., 2024) e do livro Dear Candidate: Analysts from around the world offer personal reflections on psychoanalytic training, education, and the profession (Busch, 2021), as autoras propõem pensar em como um psicoterapeuta se pode tornar psicanalista.

Como pode o candidato construir a sua história a partir da história comum institucional? O que é ser candidato de primeiro ano, recém-chegado e encontrando-se entre o sonho idealizado de se tornar psicanalista, mas também com tensões próprias, internas e externas? Como conciliar tantas vozes dentro de si nas primeiras sessões em análise? Como descobrir a própria voz?

Assumindo a escrita como autobiográfica e a honestidade como a melhor qualidade de um texto (Ogden, 2022, p.163), as autoras procuram pensar na entrada na Sociedade Portuguesa de Psicanálise com um novo olhar sobre a experiência profissional dos candidatos, integração de novas aprendizagens na prática clínica e a construção de uma identidade analítica. Questionam-se sobre o que é ser psicanalista, debruçando-se sobre a idealização do psicanalista, o encontro com o próprio analista fora da sessão de análise, o desenvolvimento da capacidade negativa, as identificações inconscientes, as desidentificações necessárias e a integração da função analítica nos candidatos.

O crescente sentimento de pertença a um Instituto e à Sociedade, na visão das autoras, parece estar sustentado pela confiança que os colegas psicanalistas em formação e psicanalistas depositam nos novos membros, refletida na tendência de se referirem aos “candidatos” como “psicanalistas em formação”. Neste contexto, os psicanalistas em formação atrevem-se a pensar nas suas identificações mais inconscientes e a diferenciarem-se do outro; o contacto e a colaboração com pares e psicanalistas, as leituras que a formação possibilita, mas também a capacidade de fazer uso dessas ferramentas no contexto de supervisão, aberto o caminho na análise pessoal, convidam os candidatos a pensar por si.

As autoras procuram analisar o impacto da reflexão sobre temáticas tão centrais na formação de um psicanalista, propondo que um candidato que inicia este percurso de olhos postos nas suas referências se permita encontrar o caminho dentro de si, percebendo a importância de seguir na relação com os outros, tolerando os medos e permitindo-se a confiança de suportar as dúvidas. Chegado a este lugar, o seu, o psicanalista em formação está mais disponível para o aqui e agora, para a experiência emergente na relação analítica, realidades inconscientes desconhecidas que se manifestam num plano intersubjetivo e que passam a poder ser contidas e elaboradas (Levine, 2022, p. 2).

Como disse Freud — o primeiro analista em formação — na sua autobiografia: “I was occupied in finding my way in my new profession” (citado por Phillips, 2014, p.102), também ao psicanalista em formação se coloca uma questão essencial, que remete para o próprio futuro: encontrar o caminho para casa, rumo a uma função analítica cada vez mais integrada e sobretudo íntima e profundamente sua, feita de tudo isto e de nada disto, que é caminhar confiante entre dúvidas e estar disponível para esta ampla construção.

Palavras-chave

Analista em formação, Identidade, Função analítica

PDF

Biografia Autor

Carmen Thadeu

Psicóloga e Psicoterapeuta. Especialista em Clínica e Saúde e em Psicologia Educacional em Necessidades Educativas Especiais. Psicanalista em Formação no Instituto de Lisboa da Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP). Membro da International Psychoanalytical Studies Organization (IPSO).

Sara Carvalhal

Psicóloga e Psicoterapeuta. Especialista em Clínica e Saúde e Especialista em Psicologia Comunitária. Psicanalista em Formação no Instituto de Lisboa da Sociedade Portuguesa de Psicanálise (SPP). Membro da International Psychoanalytical Studies Organization (IPSO).


Referências

  1. Bion, W. R. (1994). Making the best of a bad job. In F. Bion (Ed.), Clinical seminars and four papers (p. 321). Karnac Books. (Obra original publicada em 1979)
  2. Busch, F. (Ed.). (2021). Dear candidate: Analysts from around the world offer personal reflections on psychoanalysis in training, education and the profession. Routledge.
  3. Levine, H. B. (2022). The post-Bionian field theory of Antonino Ferro. Routledge.
  4. Mitchell, J. (2022). Why siblings? Introducing the “sibling trauma” and the “law of the mother” on the “horizontal” axis. The Psychoanalytic Study of the Child, 75(1), 121-139. https://doi.org/10.1080/00797308.2021.1972697
  5. Ogden, T. H. (2022). Coming to life in the consulting room: Toward a new analytic sensibility. Routledge.
  6. Oliveira, R., Almeida, C. M. & Keating, J. P. (2024). Identifications in training: The unending road to Thebes. In Conference 2024 papers (pp. 1-5). European Psychoanalytical Federation. https://www.epf-fep.eu/en/bulletin/category/id-78?flippingbook=1
  7. Peixoto, J. L. (2008). Uma casa na escuridão. Bertrand Editora.
  8. Phillips, A. (2014). Becoming Freud: The making of a psychoanalyst. Yale University Press.
  9. Winnicott, D. W. (1971). O brincar e a realidade. Imago.